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Mãos Cheias de Nada

Retalhos dos meus dias tristes...

Mãos Cheias de Nada

Retalhos dos meus dias tristes...

22.Dez.16

É tempo de reflexão

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O final de mais um ano aproxima-se e como não poderia deixar de ser é tempo de retrospectiva, de balanços, avaliações. É tempo de criar desejos, estabelecer objectivos, reafirmar compromissos.

Superstições à parte, como quase todos os meus anos pares, o ano de 2016 não foi um ano fácil. Trouxe-me o melhor e o pior. Foi um ano de desafios, retrocessos, de disputas, de lágrimas e de perda, mas também de avanços e conquistas. Mas o mais importante é que olhar para o ano que agora termina, faz-me sorrir. Enche-me o coração. Não desisti, não abri mão dos meus princípios, não “prostitui” os meus valores. Fecha-se mais um ciclo, que embora com muitas dificuldades e lutas, foi também repleto de alegrias e risos. Há quase que um sentimento de dever cumprido, sem lugar para arrependimentos ou mágoas, por isso é tempo de agradecer. Agradecer tudo o que a vida me trouxe. E é tempo de pedir. Pedir acima de tudo que a chegada de um novo ano me mantenha o coração cheio e a alma abraçada.  

Seria hipócrita da minha parte dizer que não tenho objectivos materiais. Afinal todos desejamos ter a nossa casa de sonho, todos queremos ter o nosso próprio transporte, de preferência com uma estrela na grelha da frente, um emprego e rendimentos que nos permitam viver bem. E espero que a vida me continue a proporcionar todas estas coisas e se possível mais ainda, mesmo sem qualquer queixa do que tenho hoje. Mas no fundo, tudo isto é tão pouco quando comparado com a simples emoção de viver a vida. De partilhar tempo com os amigos. De estar com a família, por mais complicada que seja. De disfrutar de um ronronar de uma gata. De um sofá e quatro pantufas…

A verdade é que no dia em que fechar os olhos, no meu último respirar, não vou estar a pensar se construí um império, ou que bens consegui ter ao longo da minha vida. Quero apenas ter a certeza de que, apesar de todas as lutas, todos os reveses, todos os altos e baixos, soube amar intensamente quem pela minha vida passou. Soube estender a mão a um amigo quando precisou. Perdoei quem me magoou e soube pedir desculpa quando errei. E soube corrigir esses erros, não apenas lamentá-los. Partilhei sentimentos, abraços apertados, sorrisos rasgados. Soube rir por entre as lágrimas que deixei cair e consegui enxugar as lágrimas de quem a meu lado chorou. Nada me orgulhará mais do que a minha humanidade e de a ter podido viver.

Por isso, que 2017 me continue a dar discernimento para saber viver a vida e emoção para vivê-la intensamente.

A todos os que me lêem os mais sinceros votos de um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo.

22.Dez.16

Forgive & Forget

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Afinal o que é o perdão? Perdoar é esquecer? Perdoamos mas não esquecemos? Só perdoamos quando efectivamente esquecemos o que nos magoou?

Perdoar não tem necessariamente que ser esquecer. Até porque o que é passível de ser esquecido provavelmente não terá grande importância...se não tem importância, não há o que perdoar…

Há momentos na nossa história que são extremamente difíceis. Todos, a dada altura, enfrentamos situações que nos magoam, abrem feridas, geram cicatrizes. Há experiências que nos marcam, ficam gravadas na nossa alma talvez até para sempre. A nossa memória é uma bagagem de mão, vai connosco para onde formos, acompanha-nos. Perdoar implica que podemos trazer essas memórias connosco e recordá-las mas sem as revivermos com a mesma angústia ou mágoa. Podemos não esquecer o que nos magoou, mas podemos optar por não permitir que esses actos condicionem a nossa vida, condicionem a nossa forma de estar e conduzam a nossa forma de agir.

Por isso perdoar é um acto tão poderoso. Por vezes excessivamente difícil, mas libertador. Porque perdoar implica muito mais do que aquilo que pensamos, e não se trata de dar razão a quem nos magoou, não se trata de nos conformarmos com o que aconteceu, mas sim aceitar, aceitar que todos cometemos erros, que todos a dada altura falhamos e todos merecemos uma oportunidade. Implica também até aceitar o que não entendemos ou conseguimos justificar. E aceitar não significa resignação ou concordância. Significa apenas que não podemos refazer o passado, mas podemos renovar a confiança no futuro de forma mais genuína.

Perdoar é uma decisão. É uma escolha nossa. Perdoar é enfrentar a nossa dor mais profunda e dizer-lhe basta! É não continuar a alimentar o sofrimento e emoções como a mágoa, a raiva, o rancor, frustração, que nos consomem e nos limitam capacidades e nos impedem de voltar inteiros…E não é preciso esperar pela humilhação de alguém para a perdoar, não é preciso esperar que chegue um pedido de desculpas, até porque esse pode nunca chegar. Há que entender que, antes de mais, o perdão é para nós, não para os outros, permite-nos crescer, seguir em frente. Permite-nos renovar energias e reconciliar-nos com a vida, e connosco.

Somos seres emocionais e como tal a dor é inevitável, mas perpetuar o sofrimento, mesmo que irreversível, é uma escolha. Não perdoar alimenta emoções corrosivas que crescem ao ponto de quase ganharem vida própria. Há recomeços que só são possíveis se soubermos perdoar. E a leveza que nasce de um perdão, que mesmo sem ser merecido tivemos coragem de dar, chega carregada de paz. Perdoar é um presente que oferecemos a nós próprios.

 

“Perdoar é o valor dos corajosos. Somente aquele que é bastante forte para perdoar uma ofensa sabe amar.” Mahatma Gandhi

 

22.Dez.16

Treason & Trust

 

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Traição. Assunto delicado. Difícil. De que pouco se fala abertamente. E não se trata apenas da traição no seu sentido mais universal, a infidelidade. A traição afecta qualquer tipo de relação, conjugal, social, familiar, profissional. Afinal não traímos apenas o nosso parceiro, traímos amigos, colegas de trabalho. A família. Traímos das mais diversas formas, até a nós próprios e muitas vezes nem temos consciência disso. Traímos quando fingimos que está tudo bem, traímos quando deixamos de ser nós próprios, traímos quando negligenciamos a nossa vontade em prol dos outros, traímos quando deixamos os outros ditarem as regras, traímos quando mentimos, traímos quando ocultamos. E esquecemo-nos que a traição não é apenas uma falha, um lapso, é uma escolha, uma opção entre tantas que nos são colocadas diariamente.

E traímos pelas mais diversas razões, falta de atenção, por medo, por desespero, por insatisfação, pela necessidade de liberdade, pelo poder. Mas acima de tudo traímos pelo egoísmo puro de quem tem o mundo nas mãos. Um dos maiores desafios que se coloca às relações humanas, sejam de que natureza for, continua a ser a capacidade de cada um se colocar no lugar do outro. Muitas vezes se procurássemos entender o que sentiríamos se fosse o outro a ter determinada atitude para connosco, provavelmente pensaríamos duas vezes antes de actuarmos. Certo é que existem pessoas que traem dignas de um Óscar da Academia, e nestas a preocupação são apenas as desculpas e as mentiras que irão criar, muito mais do que o acto em si de trair. Outras nem sempre dão conta de que estão a trair e até a iludir-se a si próprias.

A traição implica sempre desrespeitar quem traímos. Esquecemo-nos que não é falta de amor, amizade, carinho pelo outro, é falta de respeito. É ferir, seja de que forma for, quem acreditou em nós. É golpear o que de mais nobre há numa relação, a confiança. A traição, revestida de que forma for, deixa marcas indeléveis. A dor é intensa, avassaladora, e porquê? Se pensarmos bem, nunca somos traímos por um estranho. A traição vem de quem amamos, de quem demos acesso aos nossos sentimentos. E nunca é positiva. Desenganem-se os que acreditam que é possível perdoar e voltar ao que se tinha antes de a quebra de confiança ter invadido o seu espaço. Tentar recuperar é perda de tempo, apenas desgasta e causa ainda mais sofrimento. É preciso ultrapassar, criar novas bases de entendimento. Os relacionamentos que conseguem superar seguem um novo rumo. Induzem-se recomeços, fortalecem-se laços, abrem-se novas vias de comunicação. Mas daí a dizer que é positiva, é o mesmo que dizer que alguém que passou por uma qualquer doença maligna e recuperou, foi positivo. Obviamente que superar com sucesso é óptimo, mas só quem passa é que sabe o sofrimento envolvido em todo o processo de tratamentos.

Por vezes a traição é apenas emocional, mas a incerteza que causa, a dúvida que alimenta, pode abalar a confiança a um ponto sem retorno. Quando nos mentem nunca sabemos quanto tempo levaremos para voltar a acreditar. Ainda que por vezes dilacere, há nobreza na verdade. Carrega integridade, paz de espírito. Com a mentira algo dentro de nós desfalece, e dar uma segunda oportunidade a quem nos traiu é um trabalho árduo e doloroso. É um processo intenso e a tempo inteiro. Todos somos capazes de superar, apesar de todos os espinhos que uma confiança traída pode trazer. E não passa apenas por um pedido de desculpas, por mais sincero que seja. Nunca é suficiente. Afinal palavras leva-as o vento. Mas se acompanhado de uma mudança de comportamento em prol da relação afectada, se existem atitudes, talvez seja possível renovar a confiança. A pouco e pouco a segurança pode reinstalar-se, o medo dar tréguas e todos os receios, desconfianças, e sentimentos de mágoa vão dando lugar à serenidade. É preciso entender que é também uma oportunidade para crescermos como pessoas e aprendermos a rodear-nos de quem nos faz bem e não como uma oportunidade para desconfiarmos de todos.

E é preciso entender o que é a confiança. Não é algo de posse.  É uma ponte, uma ligação construída na base da sinceridade, na lealdade, na transparência. “Confiança é um cheque assinado em branco”…Não conseguiria definir melhor… porque confiar é dar-nos capacidade de prever o comportamento do outro. Confiar é acreditar nas intenções. Confiar exprime a profundidade e a complexidade das relações humanas. Confiar não é uma escolha, porque a confiança sente-se, vem da intimidade, da partilha. Mostrar que somos dignos dessa confiança sim, é uma opção.

Mas se a confiança se conquista e se constrói desta forma, também não pode ser totalmente destruída à primeira prova. Afinal a confiança é assim tão frágil? É de vidro? Por não ser de cristal por vezes pode ser reconstruida. Mas também não é estática, tem que ser reforçada, exigindo esforço e vontade para mantê-la. O problema é que uma mentira, uma traição, normalmente chega-nos de uma forma demasiado brusca, agressiva. A mentira constitui sempre uma ameaça à segurança. Tira-nos o chão, atira-nos ao tapete, agoniza o nosso dia-a-dia e passamos a ser consumidos pelos “ses”. Depois da primeira onda de mágoa que chega tal um tsunami, a dor vai-se espalhando, aliviando o peso. Mas o orgulho ferido, a decepção, a raiva, o medo, a tristeza, e até mesmo a culpa, aniquilam a auto-estima, e a descrença no futuro e nas pessoas instala-se. Caminhamos sobre um trapézio sem rede.

Infelizmente hoje vivemos num mundo onde se perdem cada vez mais valores éticos, princípios morais, respeito pelo próximo e adquirir confiança é difícil. O egocentrismo do ser humano é evidente, mas não nos podemos entregar ao medo. Hoje confiar pode ser uma roleta russa, mas continua a ser uma das grandes bases das relações humanas. Este pilar, tão fundamental, quando abalado coloca em causa muitas verdades fazendo-nos questionar até as experiências que tínhamos até então como as mais sinceras. Por isso a quebra de confiança pede luto antes de seguir em frente. Pede entendimento. E pede coragem.

É importante persistir e acreditar que somos capazes de converter medos em forças, dúvidas em desafios.

Não podemos assumir a responsabilidade pelas atitudes dos outros nem podemos julgar todos da mesma forma. Não podemos pensar que somos perfeição. Em algum momento todos erramos. Em algum momento todos falhamos. Somos seres maravilhosamente imperfeitos…

22.Dez.16

Declínio dos Afectos

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“Tudo começa com uma televisão ligada. E depois vem um computador, um jogo, um jantar de amigos. Aos poucos o mundo afasta quem se ama. Houve demasiado mundo a separar-nos, e nem o refúgio final de uma cama conseguimos preservar.” Pedro Chagas Freitas, in Prometo Perder

 

A preguiça induz-nos a um coma profundo, em que, ligados às máquinas, nos vamos despedindo lentamente, vítimas de um tanto faz, de uma comodidade quase conveniente. Guardamos os sonhos numa qualquer gaveta e olhamos para o futuro com o tempo contado. A solidão a dois, no mesmo lugar, afasta, repele.

A mesmice é uma dura realidade. A multiplicidade de tarefas e os reveses do dia-a-dia, o trabalho, os amigos, a família, sugam-nos para uma rotina, em que a dedicação ao outro é transportada para segundo plano. A armadilha da monotonia encarcera-nos, toma conta de nós e altera-nos prioridades. Vítima do tempo, o riso fácil dá lugar a uma apatia torturante, o diálogo fica lá atrás, e um beijo, um abraço, um colo, cai no esquecimento. A falta de carinho transforma-se em cobranças, exigências e os gestos de afecto dão lugar ao vazio. Desvanece-se a beleza das pequenas coisas e o prazer da simplicidade desaparece.

“O animal satisfeito dorme”. Dormir e acordar com a mesma pessoa diariamente ano após ano satisfaz a nossa necessidade de segurança, mas, seduzidos pelo repouso, pelo conforto de quem está sempre ali, entregamo-nos a uma comodidade que acalma, amortece, esquecendo que essa satisfação conclui, encerra. O ser humano, quando plenamente confortável, descansa, adormece entregue a uma monotonia afectiva que aprisiona, não deixando margem para a continuidade, para a procura, para a persistência.

Na verdade, quem quer partilhar tristezas? Viver lado a lado com desilusões? Quem quer passar noites sem dormir, aguentar maus humores, dividir tempo, ceder vontades e ainda sentir torturas psicológicas? São muitas as dificuldades e os desgastes que os relacionamentos enfrentam. E não é possível viver das memórias, do que ficou lá atrás, do que fomos e não voltámos a ser. Ninguém sobrevive de momentos, meras migalhas de amor, rasgos de um passado longínquo. E na ausência a vontade de ir aumenta e o desalento instala-se. A honestidade dos momentos partilhados dá lugar a um terreno lavrado pela dúvida e pela desconfiança. Cada dia a mais neste limbo corrói, termina, varre a esperança e a escolha egoísta da distância é inevitável. O silêncio torna-se ensurdecedor. O cansaço expulsa-nos. Os afectos vão-se apagando e o medo de perder vai cedendo à dúvida do desistir. A indiferença é letal, a distância emocional cava abismos e o egoísmo sela os olhos. Passa-se a viver num imaginário. Um mundo faz de conta. Nenhuma cama embala o sono quando nos subtraímos constantemente. Somam-se noites vazias. Passamos a sentir falta de tudo, inclusive do que não tivemos, do que poderia ter sido, dos sonhos que ficaram por viver.

As pequenas situações quotidianas vão dando origem a diferenças, problemas que se vão negligenciando apenas para evitar uma discussão, acabando por desgastar ainda mais a relação do que a própria discussão em si. Assumimos comportamentos passivos, somos autênticos evitadores de conflitos, renegando a importância da honestidade. A sinceridade é tão fundamental, não apenas no que toca à verdade, mas no confronto das nossas emoções. Reconhecer o que estamos a sentir e mostrá-lo com clareza permite desdramatizar as situações. Mas esquivamo-nos de manifestar o nosso desagrado, esperando que o outro lado perceba. Fazemo-lo para evitar o confronto e esquecemo-nos da proporção que a espera pode tomar. Outras vezes escondemo-nos atrás de um optimismo exacerbado como forma de reagir às adversidades, acabando por relativizar em demasia e nem damos conta que estamos a retirar importância à outra parte. E mesmo no silêncio criam-se braços de ferro intermináveis. Este descompasso de sentimentos leva muitas vezes a que uma das partes assuma comportamentos que vão contra o relacionamento e quando o outro aceita passivamente essas alterações, a mágoa é imediata e crescente. O foco desvia-se e a atenção recai sobre tudo aquilo que nos afasta da relação retirando a possibilidade de qualquer renovação. Esquecemos por completo o brilho do início e ficamos de olhos postos no fim, tantas vezes mais fácil que enfrentar os desencontros.

É preciso compreender o que é saudável para a segurança e estabilidade do relacionamento para se tomar a decisão certa. É preciso sair desta areia movediça que nos suga e em que nada de bom cresce.

A arte de uma vida a dois não tem necessariamente que passar pela eliminação dos problemas, mas sim pela aprendizagem constante. Compreender e aceitar que existem problemas sem solução, permite-nos aprender a geri-los, aprender a ceder. Por vezes implica pequenas perdas para cada uma das partes, mas se a relação continuar protegida ambas as partes ganham. O agradecimento, o elogio, a demonstração de carinho fazem parte do ritual da conquista, mas quando a sua importância é renegada antecipam-se finais. Reforçar estes laços impede que a intimidade se perca. É preciso parar de olhar para o nosso próprio umbigo e valorizar o que temos a nosso lado. Mostrar com regularidade e clareza a importância que alguém tem na nossa vida. Mostrar genuinamente o que se sente. É preciso ir solucionando as diferenças a tempo de evitar grandes conflitos tantas vezes originados apenas pelo acumular de pequenos desacordos mal resolvidos. Às vezes o recomeço é necessário. E é sem dúvida um caminho sinuoso. O recomeço significa assumir que algo chegou a um fim, porque fracassámos, porque desistimos, porque nos cansámos. E no recomeço o esforço tem que ser maior, porque sabemos o que nos espera, sabemos o que já tivemos e sabemos inclusive onde poderemos fracassar novamente. Efectivamente o factor surpresa do novo, do começo, tem um fascínio que nos faz correr atrás, a curiosidade impulsiona, cria adrenalina e por isso tantas vezes pulamos para infidelidades efémeras e vazias de afectividade. Relações voláteis, descartáveis.

O difícil é manter o amor vivo dentro de nós e trazê-lo para a relação. Difícil é amar depois de discussões que parecem incessantes, difícil é amar depois de nos decepcionarmos. Difícil é amar quando apenas o choro é nossa companhia. Difícil é amar quando o mundo lá fora brilha e cá dentro a tempestade impera. Difícil é reapaixonarmo-nos frequentemente por quem está a nossa lado há anos. Difícil é saber que o amor não basta. Não resolve contratempos. Não enfrenta todos os desafios. É difícil, complexo, dá trabalho, exige esforço, adaptação, cedências, pede paciência, dedicação. É preciso cultivar, reinventar, ressignificar, redescobrir. Mas vale a pena insistir no que nos faz bem, no que não se esgota.

 

Não temos que amar por tudo a tempo inteiro, mas sim apesar de tudo… e apesar do tempo...

14.Dez.16

Porque hoje são 10 anos

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Fomos tão improváveis.

Começámos num prenúncio de morte anunciada. Num amor nado-morto, onde fomos tempestade e fomos caos.

Fomos tão improváveis, num desencontro que a vida cruzou. Acontecemos, no lugar incerto, no tempo errado.

Fomos tão improváveis.

Fomos tudo e fomos nada…No erro fomos acerto, mudança. Na quietude fomos movimento. Nos desafios fomos batalha. Na dúvida fomos escolha e fomos paciência. Na paz fomos riso e alegria, fomos abraço apertado, beijo demorado...fomos apego e fomos morada…

Fomos tão improváveis.

Na rotina fomos devaneio. Na ausência fomos silêncio, distância, e fomos desilusão e lágrimas…Na paixão fomos luxúria e desejo, fomos aperto no peito, perturbação na alma…Na incerteza fomos coragem. Na dor e na mágoa fomos demência, e fomos força. Na tristeza fomos amizade.

Na imperfeição fomos conquista e no fim fomos recomeço…

Fomos tão improváveis, numa tão complexa simplicidade de ser.

Mas quando ainda existe um milhão de sentidos que invadem o peito, se entranham na alma e nos incendeiam, quando um beijo ainda nos ilumina e nos trespassa, quando no silêncio de um olhar ainda se lê o que as palavras não expressam, quando em cada momento imperfeito ainda há riso, quando em cada memória há plenitude, quando ainda há momentos inesquecíveis e noites inigualáveis… não somos tão improváveis.

E contra todas as improbabilidades criámos um amor que ficará para sempre, mesmo sem crença na existência de um amor eterno.

 

E agora futuro, que queres de nós? Esperamos-te…Vem...mas sem pressa, que o presente é nosso…

 

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