Dia Internacional da Mulher
Longe de ser uma feminista exacerbada, defensora acérrima e destemida dos direitos das mulheres, talvez até por ser apologista de um cavalheirismo hoje quase inexistente, tenho consciência e valorizo a larga conquista que foi feita por muitas mulheres deste mundo. Lutas que nos permitem a nós hoje, contestar e rever preconceitos e limitações que desde sempre foram impostos às mulheres... Reivindicações que nos deram a nós hoje, a liberdade que respiramos e a integridade com que vivemos...
Muitos movimentos que durante décadas foram (e ainda são em muitos casos) reprimidos até com violência, recusando às mulheres melhores condições de trabalho e igualdade de direitos sociais e políticos, deram-nos inúmeras possibilidades de escolha que até então nos eram negadas.
Hoje esta luta parece-me muito mais discreta e silenciosa, e até mesmo um pouco esquecida, embora se continue a discutir o papel da mulher na sociedade actual, para além do papel quase subalterno de mãe e fada do lar, que ao que parece é aquele que nos assenta que nem uma luva. A verdade é que qualquer mulher por mais bem sucedida que seja, e seja qual for o ordenado que usufrua, só é de facto admirada, se juntamente com isso, for mãe e dona de casa. Mas por aqui a revolução terá que passar também pela mudança da mentalidade feminina, tantas vezes cruel consigo própria e manipuladora com os outros. Sim, passa por deixarmos de olhar com desdém aquelas que conquistaram lugares de destaque, de apontarmos o dedo ao sucesso que atingiram. Passa por deixarmos de procurar as falhas que têm e a “vida vazia” que levam. São escolhas. Escolhas essas que nos foram permitidas por mulheres que sofreram horrores vidas inteiras.
Mas deixemo-nos de contradições de ah e tal independência, autonomia, igualdade, bla bla bla, e depois exigir que seja ele a tratar da bricolage, do jardim, do carro, simplesmente porque lhe compete a ele, que é homem, fazê-lo. Há que admitir, sim, gosto que um homem me abra a porta, me ajude a carregar os sacos, me dê prioridade nas passagens apenas porque sou mulher, e se puder ser ele a realizar algumas dessas tarefas domésticas ditas masculinas, melhor. Não confundamos as coisas. Lembremos que se trata de uma luta de direitos humanos e não a guerra dos sexos. Lembremos que as mulheres são incríveis e muito capazes. E lembremos daquelas que batalham apenas por um lugar na sociedade...
Contudo, o que a maioria de nós mulheres faz neste dia? Espera ver nas redes sociais uma série de mensagens alusivas ao facto de sermos grandes mulheres, guardamos a esperança que o nosso companheiro se lembre e nos ofereça pelo menos uma flor e depois os restaurantes enchem-se de grupos de mulheres (e desculpem-me a sinceridade, mas aqui viramos mesmo bandos de galinhas carcarejando e emitindo sons demasiado estridentes) e consoante o dia da semana, ainda vamos todas para os copos, porque na verdade, para muitas, este é o único dia no ano que se dão ao luxo de uma noitada sem filhos e sem marido… Não me parece que este fosse o objectivo quando se criou o Dia Internacional da Mulher. É dia de celebração sim, mas mesmo com toda a evolução social e todos os avanços tecnológicos, ainda hoje, existem demasiadas mulheres que sofrem nos locais de trabalho, com salários baixos e horários violentíssimos, descriminações e até humilhações apenas por terem nascido com o sexo errado…Ainda hoje existem demasiadas mulheres por esse mundo fora que não podem estudar, não podem divorciar-se, não podem ter determinadas funções, simplesmente porque são mulheres...
Posto isto, e aproveitando que o Benfica joga (rezemos para que ganhe, já que sempre ouvi dizer que a violência doméstica aumenta sempre que este perde) celebremos este dia, com um jantar ou um simples café com (algumas) mulheres da nossa vida, mas tendo presente que tal só é possível porque foram muitas as mulheres que sofreram para que hoje possamos estar juntas à mesa…
Depoimento do Filme "Human" de Yann Arthus-Bertrand