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Mãos Cheias de Nada

Retalhos dos meus dias tristes...

Mãos Cheias de Nada

Retalhos dos meus dias tristes...

19.Fev.18

Sweet Sixteen

Carlota de nome, tal como a sua avó e a grande maioria das mulheres da sua família, era alta e muito esguia. Escondia um rosto doce, um rosto de menina onde a inocência parecia estar agora a abandoná-la.

Descendente de uma dinastia conservadora e carregada de tradição, Carlota desde cedo criara burburinho na família. Aos 6 anos decidira que pretendia ser futebolista e contra a vontade de todos conseguiu ingressar na equipa de futebol, onde ainda hoje faz verdadeiras acrobacias com os pés. No seio de uma família de meninas muito femininas e delicadas, Carlota sobressaía, não pela beleza natural que tinha, mas pelos jeans gastos e rotos e os velhos all stars tão bem-vindos em qualquer ocasião. Brigava constantemente com a mãe por causa disso mesmo. Numa família grande e unida os encontros eram frequentes e a mãe de Carlota não suportava vê-la tão “mal vestida” junto das primas.

 

Agora com 16 anos, já lhe era permitido passar alguns dias na casa de férias dos pais do Rodrigo, com alguns amigos comuns. Rodrigo, também descendente de uma família conceituada e amiga da família de Carlota, era 2 anos mais velho. Estivera quase sempre na sua vida, mas só há um ano atrás as trocas de olhares se tornaram evidentes e deram lugar ao seu primeiro amor de adolescente. Estas eram as primeiras férias juntos. Noites na praia acompanhadas de uma fogueira e do dedilhar da guitarra de Rodrigo. Certamente teria projectado tudo na sua cabeça e as expectativas teriam sido elevadas ao cubo.

 

Naquela noite Carlota abordou-me na rua. O pedido era de ajuda. Precisava de transporte para regressar a casa. Num primeiro segundo, perplexa, hesitei, mas Carlota levantou o rosto e pude olhar-lhe nos olhos, onde as lágrimas se alojavam e o esforço para as esconder tornava-se inútil.

As suas palavras eram tão de adolescente apaixonada e traída, carregadas de mágoa e desilusão. Os excessos cometidos naquela noite mostraram a Carlota que afinal Rodrigo não era o Príncipe Encantado que imaginara (ou não soubéssemos nós…). Naquela noite, abandonara a princesa em prol de novas conquistas com os companheiros de guerra. Havia que brindar às vitórias na taverna mais próxima.

Claramente entendi que nada poderia dizer que acalentasse aquele jovem coração. Nada faria diferença. E dos poucos conselhos que me permiti oferecer, perante os quais Carlota tentou dizer-me que não iria perdoar e que não ia tolerar as atitudes dele, sentia que o fazia eu própria sem muita convicção. As mensagens que Carlota constantemente enviava no seu telemóvel eram precisamente o oposto do que me transmitia.

Provavelmente se o universo nos voltasse a cruzar, pouco teria mudado. Afinal que maturidade para namoros sérios e compromissos de quase pré-casamento têm os jovens hoje? Falamos de uma nova geração, nascida na era das redes sociais, da internet e da informação ao minuto. Jovens criados com uma série de necessidades não intrínsecas, mas antes criadas pelos adultos e pela fluidez da informação. Claro que há todo um lado bom nesta nova era, em que muitos têm melhores condições de vida do que nós tivemos, já para não falar na infância e na adolescência dos nossos pais, mas a verdade é que a maturidade emocional chega muito mais tarde e muitas vezes desfasada da realidade.

Mas tudo faz parte…aos Sweet Sixteen de Carlota