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Mãos Cheias de Nada

Retalhos dos meus dias tristes...

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20.Mar.18

Little White Lies

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 “Se contarmos a verdade, com o tempo ela torna-se parte do nosso passado, se contarmos uma mentira ela torna-se parte do nosso futuro”

 

Estima-se que um adulto minta cerca de 7 vezes por dia. Assustador não? Faz-nos pensar como é possível… Mentir? E mentir tantas vezes?? Evidentemente fala-se aqui de pequenas mentiras, as chamadas White Lies. Por definição, são pequenas mentiras, inofensivas e bem-intencionadas, com as quais se evita ferir os sentimentos do próximo.

 A verdade é que nos digladiamos diariamente para seguirmos regras de conduta perfeitas, com honestidade, uma retidão inabalável, mas esquecemo-nos que acabamos por subtilmente infringir essas regras com estas little white lies. A verdade, a sinceridade, escoam-se lentamente pelos dedos a cada mentira que dizemos. Ninguém consegue ser sincero a cem por cento e a tempo inteiro. Há respostas ou comentários que estão longe de ser gentis e estas mentiras acima de tudo são piedosas, não causam dano nem são prejudiciais a ninguém. Quantas vezes temos consciência de que a nossa atitude mais sincera magoa, que uma resposta aberta e honesta será mesmo desagradável e pode até ter consequências emocionais para o outro.

Quer se esteja ciente ou não, com maior ou menor frequência, todos lidamos com as pequenas White lies.

Mentiras sem importância e sem qualquer intenção de magoar seja quem for. Estas pequenas mentiras, triviais, por vezes até diplomáticas, fazem parte do nosso dia-a-dia, nem que seja para encorajar e ajudar a que quem nos questiona se sinta melhor. Quando uma amiga nos mostra orgulhosamente uma nova peça de roupa que adquiriu, mesmo achando que ela já teve melhores dias nas suas escolhas, somos compelidos a dizer que lhe fica bem, que é muito gira, sob pena de a deixar triste se formos totalmente honestos.

A questão está em saber quão inofensivas são, quão prejudiciais podem ser… Não terão um maior impacto do que imaginamos? Onde começa e acaba uma white lie? E o que se qualifica como uma mentira inofensiva e o que constitui uma mentira séria? Quais são realmente benéficas, e quais são susceptíveis de causar dano?

A linha é muito ténue…

White Lie é legitimada pelo bem-estar do outro, mas quantas vezes não o fazemos para nos proteger? E é aqui que o problema começa. Justificamos a nós mesmos que estamos a mentir para proteger o outro, para proteger a amizade, o relacionamento, mas não estaremos a salvar a nossa pele? Mentimos em prol do bem estar do outro ou do nosso próprio bem estar?

Entenda-se que as white lies deverão ser de fácil perdão, embora se tenha que ter em conta a situação e as pessoas envolvidas. Imaginemos…Quando vezes no nosso local de trabalho nos perguntam se está tudo bem e automaticamente respondemos que sim, apenas cansada, a precisar de férias, ou uma dor de cabeça enorme, whatever… a questão é que não queremos transportar os nossos problemas pessoais para o local de trabalho e por isso mentimos. Não é mal intencionado e mesmo que algum colega venha a perceber a verdade nem dará grande importância. Mas se um amigo nos colocar a mesma questão, poderemos até no momento dar exatamente a mesma resposta, mas numa outra oportunidade explicamos que afinal não estávamos assim tão bem, o momento é que não era o certo para explicar. Isto porque queremos que nessa amizade não existam barreiras, precisamos que a confiança nessa relação se mantenha inabalável e por isso somos sinceros. Nos relacionamentos acontece o mesmo. Por vezes mentimos porque não é o momento certo, porque sabemos que a verdade vai magoar e a hora não é a melhor. O problema é que depois falta a oportunidade, o momento, a capacidade para trazer o assunto à mesa e confessar a mentira. Para além disso sabemos que vamos levantar um problema, e ficamo-nos pelo what you dont know won’t hurt you…Quem nunca o fez que atire a primeira pedra…

Quantas vezes os homens se vêem confrontados com questões simples mas demasiado difíceis de responder com honestidade? Acontece com a roupa, com o peso… mas em vez de mentir e dizer que fica excelente, que está óptima, quando acha horrendo, porque não sugerir outro traje? Aquele que ele acha que realmente lhe fica bem? Não será mais honesto? Embora sem maldade, ao mentir nesta situação abre espaço para outras pequenas mentiras…Quando perante uma mulher mais enciumada é confrontado com um “Quem era?” a resposta é a mais evasiva possível, mesmo que a outra mulher com quem falara 5 minutos não tenha importância alguma na sua vida. E em vez de ser sincero e dizer que é uma colega de trabalho, uma antiga amiga, ex-namorada, diz que era a mulher de um colega…não vá o diabo tecê-las e de futuro haver problemas por causa disso. Dizer-lhe a verdade provavelmente iria dar origem a um lote de 20 perguntas para o qual não está preparado para responder. O problema está em quando a mulher por qualquer razão venha a perceber que lhe mentira. Vai comprometer a verdade que está para trás, deixando em aberto a possibilidade de terem existido outras mentiras.

Afinal quem gosta de mentiras? Por mais que consigamos discernir que provavelmente a verdade nos decepcionaria mais do que a pequena mentira, ninguém gosta que decidam por nós, só nós devemos decidir se saímos magoamos de uma situação ou não. Mentirem-nos só demonstra a falta de confiança que depositam em nós e na nossa capacidade de gerir as situações.

Todos temos a crença (ou deveríamos ter) de que os relacionamentos humanos, sejam de que natureza for, assentam na capacidade e na possibilidade de se ser sincero. Que nas relações podemos mostrar com clareza quem somos, entendemos que não temos que mentir nem ocultar nada de quem nos quer bem. Quando somos honestos e abertos, expomos a nossa vulnerabilidade aos outros, ou seja, reconhecemos as nossas falhas e permitimos que o outro as veja, podendo desta forma sermos nós mesmos sem subterfúgios. Esta é a intimidade que vem da confiança. Na falta dela, criam-se barreiras, constroem-se muros.

É importante ter noção que a verdade pode causar tensão num determinado momento, mas a tempestade irá passar e o prejuízo é mínimo quando comparado com o que a descoberta de uma mentira faz. Seja qual for o intuito, a mentira torna-se sempre numa ameaça à segurança de qualquer relação, activando os nossos alarmes internos e mantendo-os constantemente ligados. Passa-se a viver no receio da próxima mentira e a relação deixa de ser um porto seguro. Desencadeia-se um ambiente de decepção, desconfiança. As esperanças e expectativas são defraudadas. Mesmo sendo bem-intencionada, quando descoberta, a mentira levanta sempre uma ponta do véu. E do outro lado fica sempre a questão, se é capaz de mentir por situações tão simples e sem importância, como será perante situações mais complicadas? Seja qual for o tipo de mentira ou a razão que está por detrás, quando mentimos acabamos por criar uma certa tolerância à mentira, o que significa que se vai tornando cada vez mais fácil mentir em diferentes situações…

19.Mar.18

Saber sem saber porque se sabe

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Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Intuição é: “Percepção instintiva. Conhecimento imediato. Pressentimento da verdade.” Albert Einstein disse que “a intuição nada mais é que o resultado da experiência intelectual anterior”. São muitos os estudos sobre este nosso sexto sentido que comprovam que nada tem de místico. Esta espécie de certeza interior que muitas vezes sentimos é uma capacidade do cérebro que envolve o cruzamento de informações dos dois hemisférios, o racional e o emocional. A ciência explica ainda que é mesmo através do tráfego de impulsos nervosos nessa ponte entre hemisférios, que se consegue perceber o porquê da intuição ser mais apurada na mulher do que no homem. À parte de todas as características sociais que nos distinguem, o cérebro feminino capta com muito mais facilidade o estado emocional dos outros, analisa com maior rapidez a coerência de algo, bem como relaciona dados, percebe detalhes e interpreta gestos. Sendo que os impulsos nervosos nessa ponte são muito mais intensos e frequentes nas mulheres.

Há ainda estudos que incentivam a trabalhar este lado intuitivo do ser humano, até mesmo no meio empresarial, em que já se comprovou que decisões importantes e de sucesso foram tomadas quase que como por impulso. A verdade é que se de um lado temos a ciência a tentar comprovar que esta percepção existe, por outro lado temos este conceito muitas vezes associado a contextos espirituais que tornam muitos de nós descrentes e preconceituosos.

Este sentimento que vem de dentro está presente em todos nós, embora nem sempre de forma consciente, mas é uma habilidade que devemos aprender a identificar e a escutar. Temos capacidade de avaliar e fazer escolhas, pelo que se tivermos atenção, conseguimos relacionar dados objectivos e subjectivos sem nos perdermos. Na adversidade e no imprevisto são necessárias as competências e recursos que nos permitam fazer a gestão das nossas emoções e problemas. Muitas vezes o lado racional tende a ignorar a emoção, sendo esta ligação para muitos disparatada. A intuição é um perfeito equilíbrio entra a razão e a emoção.

No entanto, frequentemente a falta de confiança nas nossas capacidades, o desdém dos que nos rodeiam perante este sentimento, leva-nos a questionar se esta voz silenciosa é efectivamente inequívoca. Poderá parecer descabido, mas enquanto observadores atentos deveremos olhar para estes ímpetos interiores não apenas com o raciocínio lógico que temos, mas com uma visão mais ampla, mais alargada. É preciso saber filtrar os pensamentos. No fundo a intuição é o resultado de um conhecimento que já foi adquirido e a dada altura armazenado, e que perante determinadas situações que nos são familiares é activada pelo nosso cérebro quase que automaticamente. Mesmo que nem sempre consigamos ver o porquê há que não duvidar. No mínimo há que questionar o porquê de não confiar mais na intuição do que no processo lento do pensamento racional.

Misticismos à parte, existem sentimentos que nos chegam de rompante e nos despenteiam. Gelam-nos o sangue, a temperatura desce aos valores mínimos aceitáveis e o frio intenso instala-se. Não se tratam de premonições ou qualquer tipo de bruxaria. São apenas alertas de sobrevivência, aos quais não damos a devida importância. Por norma o lado racional diz-nos que estamos demasiado envolvidos, ou demasiado emocionais e, como tal, não conseguimos ver com clareza. Corremos atrás da ilusão de que os nossos sentimentos nos toldam a visão e deturpam os pensamentos. Ignoramos que somos nós que experienciamos as situações e que como tal, melhor do que ninguém, sentimos na pele. Mas não. Como se trata de intuição, agarramo-nos piamente à ideia de que não estamos em condições de identificar e analisar o problema, resignando assim a nossa intuição a uma certa insignificância…