Efeito Espelho
Numa das minhas longas noites, porque são sempre as noites, debrucei-me sobre o efeito espelho. Em todo este processo de autoconhecimento, percebi que a consciencialização do que estava errado, do que era necessário mudar, estava compreendida e aceite, mas o processo estava longe de terminado e as atitudes longe de se alterarem. Contudo, houve uma mudança. Repentina. Senti-a. Assumi-a. Mas confusamente, não foi apenas uma questão de vontade, ou de necessidade, nem sequer de desespero. Mas algo impulsionou uma nova atitude, e como sempre, para mim era fundamental compreender o porquê. E parei no efeito espelho. A forma como nos projectamos nos outros pode ser muito mais elucidativa do que podemos imaginar. Este mecanismo de projecção funciona como um espelho, cujo nosso reflexo é o outro. E quando nos apercebemos dos defeitos dos outros, que efectivamente nos incomodam, percebemos o quanto os nossos próprios defeitos podem incomodar e prejudicar os outros. Com esta projecção há uma parte de nós que se reflecte através das atitudes dos outros e percebemos que aquela foi também a nossa atitude, a nossa forma de estar e a nossa forma de enfrentar as mais diversas situações da nossa vida. “Percebemos nos outros as outras mil facetas de nós mesmos” (Carl Gustav). Muitas vezes recusamo-nos a vê-la, a aceitá-la, mas a verdade é que não a toleramos no outro…A dificuldade está, mais uma vez, em admiti-lo. Naturalmente, não vemos em nós aquilo que somos que nos incomoda ou nos desagrada nos outros, acima de tudo porque não somos totalmente honestos. Se conseguirmos olhar para nós próprios de uma forma isenta e sincera, sem qualquer tipo de julgamento ou censura, conseguiremos constatar que também nós já fomos como os outros. Por isso nos cruzamos tantas vezes com pessoas com as quais temos uma enorme empatia e outras que logo à partida nos causam um certo mau estar sem razão aparente. A verdade é que o nosso dia a dia nos envia inúmeras mensagens que nos permitem saber quem somos e como nos podemos tornar melhores pessoas, mas infelizmente permanecemos muitas vezes surdos e cegos, desperdiçando grande parte das oportunidades de aprendizagem que as pessoas que se cruzam connosco nos proporcionam.
“Os nossos melhores mestres são os nossos piores inimigos” (provérbio tibetano)