Saber sem saber porque se sabe
Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Intuição é: “Percepção instintiva. Conhecimento imediato. Pressentimento da verdade.” Albert Einstein disse que “a intuição nada mais é que o resultado da experiência intelectual anterior”. São muitos os estudos sobre este nosso sexto sentido que comprovam que nada tem de místico. Esta espécie de certeza interior que muitas vezes sentimos é uma capacidade do cérebro que envolve o cruzamento de informações dos dois hemisférios, o racional e o emocional. A ciência explica ainda que é mesmo através do tráfego de impulsos nervosos nessa ponte entre hemisférios, que se consegue perceber o porquê da intuição ser mais apurada na mulher do que no homem. À parte de todas as características sociais que nos distinguem, o cérebro feminino capta com muito mais facilidade o estado emocional dos outros, analisa com maior rapidez a coerência de algo, bem como relaciona dados, percebe detalhes e interpreta gestos. Sendo que os impulsos nervosos nessa ponte são muito mais intensos e frequentes nas mulheres.
Há ainda estudos que incentivam a trabalhar este lado intuitivo do ser humano, até mesmo no meio empresarial, em que já se comprovou que decisões importantes e de sucesso foram tomadas quase que como por impulso. A verdade é que se de um lado temos a ciência a tentar comprovar que esta percepção existe, por outro lado temos este conceito muitas vezes associado a contextos espirituais que tornam muitos de nós descrentes e preconceituosos.
Este sentimento que vem de dentro está presente em todos nós, embora nem sempre de forma consciente, mas é uma habilidade que devemos aprender a identificar e a escutar. Temos capacidade de avaliar e fazer escolhas, pelo que se tivermos atenção, conseguimos relacionar dados objectivos e subjectivos sem nos perdermos. Na adversidade e no imprevisto são necessárias as competências e recursos que nos permitam fazer a gestão das nossas emoções e problemas. Muitas vezes o lado racional tende a ignorar a emoção, sendo esta ligação para muitos disparatada. A intuição é um perfeito equilíbrio entra a razão e a emoção.
No entanto, frequentemente a falta de confiança nas nossas capacidades, o desdém dos que nos rodeiam perante este sentimento, leva-nos a questionar se esta voz silenciosa é efectivamente inequívoca. Poderá parecer descabido, mas enquanto observadores atentos deveremos olhar para estes ímpetos interiores não apenas com o raciocínio lógico que temos, mas com uma visão mais ampla, mais alargada. É preciso saber filtrar os pensamentos. No fundo a intuição é o resultado de um conhecimento que já foi adquirido e a dada altura armazenado, e que perante determinadas situações que nos são familiares é activada pelo nosso cérebro quase que automaticamente. Mesmo que nem sempre consigamos ver o porquê há que não duvidar. No mínimo há que questionar o porquê de não confiar mais na intuição do que no processo lento do pensamento racional.
Misticismos à parte, existem sentimentos que nos chegam de rompante e nos despenteiam. Gelam-nos o sangue, a temperatura desce aos valores mínimos aceitáveis e o frio intenso instala-se. Não se tratam de premonições ou qualquer tipo de bruxaria. São apenas alertas de sobrevivência, aos quais não damos a devida importância. Por norma o lado racional diz-nos que estamos demasiado envolvidos, ou demasiado emocionais e, como tal, não conseguimos ver com clareza. Corremos atrás da ilusão de que os nossos sentimentos nos toldam a visão e deturpam os pensamentos. Ignoramos que somos nós que experienciamos as situações e que como tal, melhor do que ninguém, sentimos na pele. Mas não. Como se trata de intuição, agarramo-nos piamente à ideia de que não estamos em condições de identificar e analisar o problema, resignando assim a nossa intuição a uma certa insignificância…